segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Histórias XXIII

Sem terem combinado, foi até ao sitio do costume, à hora de sempre, na expectativa de o encontrar. Precisava apenas de o olhar nos olhos, de lhe ver a alma novamente, de lhe sentir a vida... Queria só conversar, com calma, sem acusações ou explicações do que aconteceu. Queria apenas conversar sobre ele, sobre ela, sobre o mundo e a vida... Queria ouvir-lo outra vez...

Ele não estavas lá, não voltou lá depois daquele dia, não a voltou a procurar... Ela foi tentando combinar encontros, até que um dia percebeu que era errado continuar a fazê-lo. 

Meses depois daquele dia, depois de muitas tentativas dela para se reencontrarem e muitas recusas da parte dele, já num novo ano, ele procura-a...

Pede-lhe que se encontrem, que conversem sobre a vida, sobre o que têm feito, diz-lhe que tem saudades de conversar com ela e de a ver. Ela chora, perguntando, em silêncio: "porque levaste tanto tempo para me procurar?" Aceita o convite, mas diz-lhe: "amanhã às 10h no aeroporto", ele questiona-a do porquê do local e da hora. Ela apenas lhe responde: " até amanhã".

Assim que escreve aquele "até amanhã", olha para cima da cama e vê a mala por fechar... Olha à sua volta e pensa em como às vezes fazemos escolhas erradas. Ela não queria que ele tivesse aparecido antes para evitar o que vai acontecer agora, queria que ele tivesse aparecido antes, porque ele a conseguiu fazer-se sentir viva novamente, porque ele a completava, porque ele a fazia sentir-se feliz... ela queria que ele tivesse conseguido ficar mais um tempo do seu lado, que a tivesse conseguido amar, ainda que tivesse sido apenas isso, não lhe teria deixado o gosto de fracasso novamente... ao partir mudando rapidamente de sentimentos e comportamento com ela, ele fez com que ela voltasse a sentir que nunca iria conseguir manter ninguém por perto o tempo suficiente para ser amada...

Colocou mais umas coisas dentro da mala, entre elas, uma folha que arrancara do caderno onde tinha escrito "vou lutar por mim"... Fechou a mala... 
Levantou-se no dia seguinte pela manhã e à hora combinada estava sentada na mesa à espera dele. Quanto a vislumbra sentada na mesa, o coração dele acelera o ritmo e em catadupa passam-lhe pela cabeça todas as imagens dos momentos que passaram juntos, das conversas, das mensagens e pensa: "porque levei tanto tempo a voltar a procurar-te?"

Chega, senta-se ao lado dela e pergunta-lhe: "porquê aqui?"... Ao que ela responde: "vou embora"...
Ele olha para ela incrédulo e apenas lhe consegue perguntar por quanto tempo vai. Ela olha-o nos olhos e responde: "vou pelo tempo que levar a sentir que lutei por mim. Talvez seja o mesmo que leve a deixar de te amar." Levantou-se, pegou na mala e de lá tirou um envelope, colocou-o em cima da mesa e disse-lhe: "fico à tua espera, se quiseres lutar por ti saberás o que fazer".
Pegou nas coisas e partiu, rumo a um novo destino, uma nova casa...

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