sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crianças VII

Querido R, pintassilgo, 


Hoje sento-me de pernas à chinês em cima da cama, com as costas contra a parede e o olhar fixo neste ecrã onde as letras vão aparecendo à medida que carrego nas teclas. 
Independentemente do que se passa no resto do mundo e numa parte da minha vida, hoje quero falar contigo, ou melhor, escrever para ti. 

Entras-te pé ante pé no meu coração e na minha vida. Saltas-te para o meu colo, e lá passaste meia sessão de cinema... foi tão bom partilhar contigo a tua primeira ida ao cinema... Se no momento seguinte a distancia e a grande ausência nos fez estranhar a presença um do outro, quando te fui visitar ao teu "reino" parece que sempre tínhamos feito parte da vida um do outro. 

Obrigada R por me teres recebido dessa forma tão natural, mágica, inteira e sincera como na verdade só as crianças conseguem ser. 

Aquele "é a ******?!" quando te passavam o telefone é simples mágico e preenche as lacunas que algumas dores vão deixando na nossa alma...



Na verdade tu fazes parte da minha vida de uma forma muito intensa e gosto de ti de uma forma muito especial, é um sentimento demasiado forte para o conseguir transpor para palavras. Tenho saudades do teu abraço, dos teus beijinhos e dos teus miminhos... tenho saudades de te dar a mão, tenho saudades de te ter no meu colo e de sentir que te posso fazer feliz por algumas horas... Tenho saudades tuas... 

Sabes, os adultos são complicados de mais, e muitas vezes esquecem-se que é na simplicidade dos sentimentos que está a essência da vida... Obrigada por me teres deixado cuidar de ti, por me teres aceite na tua vida e por me teres amado e deixar-te amar... 

Venha o que vier, serás sempre o meu pintassilgo, e na verdade o meu primeiro filho...  

Gosto mesmo de ti tartarugo júnior!

domingo, 7 de julho de 2013

Cafés XXIII

Meter a chave à porta e saber que do outro lado nos espera apenas uma casa cheia de objectos mas onde a vida ainda não existe é doloroso e deixa uma sensação de inquietude muito grande.

Entrar, sentir o calor acumulado de uma semana de temperaturas altas e o frio da solidão é um choque térmico demasiado grande para quem na verdade precisa de uma brisa que refresque o corpo e de um abraço que aqueça a alma...

Olhar para tudo o que existe naquela casa, lembrar a forma como foi escolhido, montado, colocado, pensado e sonhado... Lembrar como foi "viver" cada um daqueles objectos pela primeira vez, desperta um sorriso no rosto e um orgulho grande por sentir que conseguimos concretizar tudo o que idealizamos para aquele espaço. Fica, no entanto, o vazio da tua ausência, a saudade e a incerteza de quando terei a certeza de ter vida por trás da porta quando a abrir...

Quando as lágrimas correm sem parar e o medo da solidão se torna insuportável, só um café sem açúcar pode trazer a lucidez dos pensamentos e a clareza das decisões.... Faz-me falta o teu sorriso, ali na cadeira, encostado à parede, a tua mão estendida em cima da mesa à espera da minha... Faz-me falta a tua presença e a certeza que basta virar-me e posso abraçar-te... Na verdade nem um café consegue acalmar a dor da tua ausência...

Há cafés assim, que não mudam nada... Porque o vazio continua vazio e a ausência não se transforma em presença....
Espero por ti para que o próximo café seja cheio de vida!