domingo, 27 de maio de 2012

Histórias XXXII

Encontraram-se, deixaram-se levar pela emoção, deixando de lado a razão que mais tarde se fez notar e os levou ao afastamento.
Passaram meses, cada um no seu canto, a lembrar e a sentir saudades de tudo o que tinham vivido, a pensar em como teria sido diferente se tivessem tido a sorte de se encontrar anos antes no caminho da vida. Mantiveram contacto até ao dia em que ela resolve que não podia continuar a alimentar uma situação que nunca passaria de um sonho.

Afastaram-se, deixaram de falar, de saber um do outro, de acompanhar (ainda que há distância) o evoluir da sua existência.
Um dia, por acaso, numa conversa de pessoas comuns aos dois, ele percebe que ela estava doente... Parou por momentos a ouvir quando alguém dizia que ela estava internada, que a situação era complicada e que a injustiça da vida mais uma vez se fazia sentir. Ficou calado, com o olhar parado, sem sentir, sem falar, por momentos até sem respirar... Volta a si, e percebe que tem que arranjar maneira de a ir ver...

No dia seguinte, pela manhã, chega ao hospital, procura o seu quarto e pede para a ver fora do horário de visitas, é-lhe dada autorização... Quando entra no quarto e a vê, escorrem-lhe pelo rosto dois fios contínuos de dor...

Ela está ali, deitada, de olhar fixo na janela, não quer olha-lo, não quer falar... apenas lhe diz: "Há uns anos, fizeste a escolha correcta."

Ele chora e diz-lhe: "Perdoa-me ter sido cobarde"

Ele sai, e pouco depois ela parte na serenidade do final de um caminho feliz!



sábado, 26 de maio de 2012

Desabafos XXII

“Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram, vamos ficando sozinhos uns dos outros”  
(Mário Quintana) 

Quando se opta por viver trabalhando, foge-nos o tempo para ter "outros" na nossa vida. Para cultivar amizades e às vezes até inimizades. Não é errado ou correcto, viver trabalhando, é uma opção que tem custos e benefícios. Se a margem que daqui fica e alta ou não, parece-me que depende da fase de vida em que cada um se encontra. 

A solidão não me parece que assole aqueles que optam conscientemente por viver trabalhando, pelo menos quando se trata de uma opção por ela só e não um mecanismos de distracção para outras dimensões da vida.  

Quando a vida nos corre e nos sentimos sufocados pelo seu ritmo e sentimos necessidade de parar e não podemos fazê-lo, corre-se um risco. O risco da paragem... Quando depois de tanta agitação se parar, a confrontação com tudo o que aconteceu e se viu, mas não se teve tempo de sentir, pode provocar o colapso do equilíbrio ficcional que se pensa deter. 

Vamos ficando sozinhos de nós mesmos... vamos perdendo a nossa existência em cada queda fruto da corrida da vida. 


sábado, 19 de maio de 2012

Encontros XI


"A vida é cheia de ciclos e ciclos repletos de pessoas. Algumas ficam, outras não. Outras vão, mas contrariando as leis da física, continuam."

Há ciclos de amigos verdadeiros e ciclos de colegas falsos... há também ciclos de amigos falsos e colegas verdadeiro... há a família, que povoa todos os ciclos em proporções de presença diferentes em cada um deles. 
Quando algumas pessoas vão para fora das nossas vidas, algumas não deviam ir, deviam ficar para sempre, outras deviam ir para fora da nossa vida e de todas as vidas que nos rodeiam... deviam simplesmente ir... 

Há pessoas que quisemos na nossa vida num ciclo, mas deixámos de querer noutro porque nos deixou de fazer sentido, porque nos fez mal, porque já não nos faz bem... há outras que nos farão bem, nos farão falta em todos os ciclos que a vida nos permitir viver. Há ainda aquelas que surgem num ciclo e pensamos que deviriam fazer parte de todos os anteriores... 

"Há pessoas que passam e outras que ultrapassam. Que transpõem qualquer barreira, que encontram uma maneira de ficar. Pessoas que não perguntam se têm espaço, só se ajeitam, arranjam forma  de permanecer. E fazer parte. E mesmo quando partem, passam a todo. Porque ocupam tudo. Deixando um vazio cheio de presença."

Estanho é que há pessoas que pensamos que tinham passado e na verdade ultrapassaram, há outras que achamos ter ultrapassado e apenas passaram... a isto chamo a hipocrisia da vida... 
Na reavaliação que fazemos da vida, mais dia menos dia acabaremos por perceber que quem ultrapassou todas as dificuldades que existem para permanecer ao nosso lado são, na realidade, aquelas que devem ficar, são as escolhidas, as certas... as verdadeiras pessoas que connosco caminham, crescem, vivem e revivem a essência da vida partilhada e sentida. 

Há ainda as pessoas muito especiais, que entendem que tem que estar ao nosso lado, mesmo quando as tentamos impedir, aquelas que ficam sem pedir, ficam, e voltam a ficar... e ficam de tal forma que o ocupam o espaço que mais ninguém nunca ocupou... ficam até ao fim... ficam para sempre.... 

Há as pessoas do presente, do passado e as do futuro... de um futuro que será sempre futuro, estas são aquelas pessoas que nunca chegarão a estar connosco, com quem nunca chegaremos a partilhar nada... às vezes, são aquelas porque esperamos a vida inteira, aquelas com quem sonhámos e nunca tivemos oportunidade de conhecer e talvez só na despedida entendamos porque é que cada pessoa é uma pessoa diferente e se encontrou connosco num momento diferente, ficou um tempo diferente e no fim nos tornou quem somos na nossa diferença!


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Cafés XVIII

Há momentos em que a vida nos parece ser demasiado cruel e para não a deixarmos vencer-nos, resta-nos sentarmo-nos na mesa da explana de um qualquer café da vila e ficarmos ali, sentados a pensar o que virá agora, o que será depois... 

São os chamados cafés solitários nas encruzilhadas da vida, que não servem para tomar decisões, servem apenas para olharmos de frente as culpas que temos no presente que se desenha na nossa vida. E percebe-se que mais vale beber o café sem pensar, apenas com a sensação que vivemos e o podemos saborear, ainda que não encontremos na lista infindável de contactos do nosso telemóvel ninguém com quem queiramos partilhar a angustia do presente... E também esta solidão é por nossa culpa, também ela é consequência do que já decidimos, do que já fizemos, do que já fomos e não queremos ser mais...

Há cafés assim... em que sozinhos numa mesa de café, com uma chávena de café à frente, apenas estamos nós e as nossas lágrimas... fruto apenas e só daquilo que somos... 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Dias XXI

"Um dia é preciso parar, rever o passado, olhar o presente, e pensar o futuro!"

Hoje é esse dia... 



Sonhos V

Às vezes, quando menos contamos, a vida prega-nos uma rasteira, na dimensão e no momento que menos contamos que venha a acontecer.
Há momentos em que temos que conseguir sair de nós mesmo e ver a nossa existência de fora, como se de outro ser nos tratássemos. 
Quando nos deparamos com a informação que determinada sonho de uma vida não poderá ser realizado, restam-nos poucas opções. Podemos entregar-nos à tristeza, podemos fazer de conta que nada aconteceu, ou podemos olhar a realidade de frente e tentar reorganizar a nossa existência de acordo com os novos factos.

Se causa dor? Claro que sim. Se as lágrimas correm uma após outra? Sim... A dor não deixa de se sentir, o desapontamento não passa ao lado, a desilusão, a sensação de que nada faz sentido quando um dos nossos objectivos de vida deixou de poder ser concretizado. Mas e agora? Ficamos assim, tristes e derrotados?

Parece um rol de verdades feitas e de lugares comuns, mas a verdade é que nada disto é fácil, mas muitas vezes é a forma de nos fazer repensar a nossa existência na sua totalidade. Talvez estivéssemos em busca de um caminho que não é o nosso...

São por vezes as "chapadas" da vida que nos permitem realizar outros sonhos, alguns que já eram nossos e pensámos sacrificar em prol de outros mais importantes, outros que são novos e surgem neste novo caminho que se inicia.

Se com isto a dor passa? Duvido... Se seremos plenamente felizes? Não sei... Se o sonho por concretizar será esquecido? Nunca... O vazio da sua não concretização acompanhará, inevitavelmente, a vida inteira... resta a hipótese de se aprender a viver sem a sua concretização com todas as alterações de caminho a que isso nos sujeita.

E é em momentos como estes que se questiona "porquê a mim?" ou antes "que mal fiz eu?"...

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Partilhas XXXII

"... Há um tempo para tudo... Há um certo tempo para tudo acontecer e temos de fazer da paciência um aliado poderoso, embora esse processo quase alquímico possa decorrer ao longo de toda uma existência. Quando começamos a esboçar a história da nossa vida não sabemos, efectivamente, que rumo lhe vamos dar, e é verdade que às vezes a tinta falha, nos momentos que julgamos determinantes, mas há uma certeza que nunca nos abandona: a da existência de vários apeadeiros, e do tal ancoradouro final onde iremos aportar um dia(...)
A alma humana é dona de territórios que ninguém decifrou ainda. Talvez por essa razão, ainda continuem a descobrira eterna capacidade de nos surpreendermos com os outros, Mas o mais importante é surpreendermo-nos connosco."


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu VII

Há frases que nós lemos e nem as pensamos... Aceitamos sem reflectir no que elas querem dizer, ou no que dizem efectivamente. 

Deparei-me com um: "Sabemos que não ia dar"

Perante esta frase que poderia pensar-se que é só uma frase, perdi alguns minutos da minha tarde, parada no transito a pensar no que ali estava escrito.

Sabemos quem?! Eu e tu? Não, tu passaste a dizer que sabíamos, mas eu nunca soube... porque nunca tentei e não dou por perdida uma batalha em que não entro.... Posso é decidir não entrar, mas isso não quer dizer que não ia dar certo, quer apenas dizer que não quero perceber se pode ou não...

Ou por outro lado, serás tu e a tua consciência que o sabem?! Aqui já percebo, mas assim, deverias ter escrito antes " Não podemos arriscar perceber se pode dar certo"

No fundo, acho que afirmamos demasiado cedo coisas que não conhecemos, que não experimentamos... Rotulamos dentro de nós como impossíveis, como não alcançáveis sem antes tentarmos... Não quero com isto dizer que devemos tentar sempre, apenas quero dizer que caso se decida não tentar então é isso que se deve dizer e não afirmar-se que não vale a pena tentar porque não vai dar certo... Sem experimentar não podemos afirmar tal coisa... e muitas vezes até depois da experiência se fica na dúvida... porque a concretização positiva ou negativa de uma experiência depende de tanta coisa... Contexto, ambiente, circunstâncias, tempo, momentos...

Por último, permite-me refazer a tua frase:

"Sabemos que não devemos tentar perceber se daria certo" ou antes "Porque eu não quero voltar a pensar se poderia ou não dar certo"... 

Chama-me louca, mas eu ainda acredito que poderia dar certo, se conseguíssemos ser nós e não ser quem a sociedade nos impõe sermos... Mas respeito que não concordes comigo...