segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Dias XXVI

Um dia vou lutar por ter uma oportunidade de mostrar quem sou!

Esse dia não é hoje, nem amanhã, e muito provavelmente não será a curto prazo... Mas um dia, eu quero acreditar que vai acontecer. 

A vida não pode ser injusta a ponto de não permitir que venha a mostrar quem sou, o que sou e o porquê dos acontecimentos. Não sei se mostra-lo vai mudar os pré-conceitos já existentes... não sei se algum dia me vão conseguir aceitar... sei que o lugar dificilmente será meu, por tudo, mas principalmente pelo passado, pelo presente, pela forma como o caminho foi percorrido até aqui! 

A vida dá muitas voltas e cometem-se muitos erros, muitas injustiças e tomam-se decisões no calor do momento. Quando a dor é grande, da boca saem palavras que na verdade não estão na alma, são a magoa a sair... Quero crer que a relação fraterna da família permite erros, e é capaz de perdoar...  Quero acreditar que apesar de não se concordar com os passos, se consegue dar apoio, porque quem ama deixa ir, mesmo pensando que o caminho é um erro, deixa ir... deixa cometer o erro e fica à espera para ver o que dá o caminho escolhido. E se não correr bem?! Se não correr bem, "ralha", mas perdoa... porque se assim não for, onde está o amor de irmão? Onde está a capacidade de perdoar? Amar não é afinal isso mesmo, deixar livre e perdoar?

Esta guerra não é directamente minha, e apesar de estar muito envolvida no que a motiva, tenho consciência que nesta fase me tenho que manter afastada de tudo isto, pelo menos até que tudo esteja minimamente resolvido e se entendam as verdadeiras razões. Acredito que, apesar de tudo o que já se pensa sobre mim, a curiosidade de saber quem sou e como sou é grande, e um dia essa curiosidade vai ser desfeita. 

Não tenho direito a pedir nada, eu sei... Mas ainda assim, vou fazê-lo, quando a dor diminuir um pouco, dêem-me apenas uma oportunidade... Mas se não a quiserem dar, pelo menos não fechem a porta, nem virem as costas a quem é vosso e apenas deu os passos no tempo errado... 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Erros VII

"Se eu morrer antes de ti, faz-me um favor:
Chora o quanto quiseres, mas não te zangues comigo.
Se não quiseres chorar, não chores;
Se não conseguires chorar, não te preocupes;
Se tiveres vontade de rir, ri;
Se alguns amigos contarem algum facto a meu respeito, ouve e acrescenta a tua versão;
Se me elogiarem demais, corrige o exagero.
Se me criticarem demais, defende-me;
Se quiserem fazer de mim uma santa, só porque morri, mostra que eu tinha um pouco de santa, mas estava longe de ser a santa que me pintam;
Se me quiserem fazer um demónio  mostra que eu talvez tivesse um pouco de demónio  mas que a vida inteira eu tentei ser boa e amiga...
E se tiveres vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diz apenas uma frase:
-"Foi o meu amor, acreditou em mim e sempre me quis por perto!"
Aí, então deixa cair uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros farão isso no meu lugar.
Gostaria de dizer para viveres como quem sabe que vai morrer um dia, e para morreres como quem soube viver da forma certa.
A Amizade e o Amor só fazem sentido se trouxerem o céu para mais perto..
Se eu morrer antes de ti, acho que não vou estranhar o céu.
Ter-te na minha vida já é um pedaço dele..."

Errado não é querer partir primeiro que quem amamos, errado é querer partir antes de tempo... Errado é pensar em partir sem pensar na dor que se causa a quem não vai... a quem fica...

Há um tempo e um lugar... enquanto não for a hora, é tempo de fazer desta estadia, uma estadia com sentido!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Histórias XXXVII

Deitou-se no final de um dia repleto de imprevistos, com a cabeça cheia de pensamentos duros e questões sem resposta. Uma hora depois ainda não dormia, viu todos os minutos a mudarem no relógio do telemóvel. Olhava para o ecrã do telemóvel sem parar à espera que o relatório, da ultima mensagem que tinha enviado, chegasse, mas desta vez dizendo: "entregue" e não "pendente".

Resolveu sentar-se na cama, puxou os joelhos ao peito, abraçou-os com força e pouso a cabeça em cima deles. As lágrimas começaram a sair uma por uma, como um fio corrente de água sem parar. A angustia de não saber onde estava, de nada conseguir fazer para saber ou para lhe diminuir a dor que sabe o está a  consumir dia a dia, era de tal forma grande que o aperto no peito lhe dificultava a respiração.

Levantou a cabeça, sentiu o telemóvel vibrar... o relatório, finalmente! Na verdade, bastava-lhe saber que ainda estava vivo e bem. Sem ter tempo de enviar outra mensagem, já ele lhe ligava, atendeu e do outro lado apenas ouviu: 


Ela apenas lhe disse entre lágrimas: "Não te vás embora! Não nos deixes assim!"
Do outro lado, continuava a música e sem aviso prévio ele desliga! Tenta ligar-lhe de volta, mas já o telefone estava desligado novamente. Volta a angustia, o medo e a incompreensão da situação. Pergunta-se sem parar porque é que ele não a deixa ficar, porque é que não partilha a sua angustia com ela, nem que ficassem em silêncio, apenas com a cabeça dele no colo dela, à distancia de um ecrã a olharem dentro dos olhos um do outro... Não importa, apenas ali, a ver a alma um do outro... 

Acabou por se deixar dormir por entre lágrimas, soluções, perguntas, medos, angustias, orações... "Que Deus te guarde e nos leve onde achar que devemos ir".

Ao acordar, pela manhã, a angustia já não existia, a preocupação sim, mas o medo já não existia. Tentou ligar-lhe mas o telefone continuava desligado... Arranja-se sem vontade, prepara-se para sair... Sai, dirige-se ao carro e tinha no vidro uma carta: "Vim para ficar!"
Olha à volta... Ele estava ali, em pé, à porta do seu prédio, de onde ela tinha acabado de sair... Dirige-se a ela e diz: "perdoa-me por esta noite, mas eu tinha que vir... sem ti, nada faz sentido... não consigo mais estar longe. Desta vez, vim e fico, não volto"

Ela olhou-o com ternura, com um amor sereno que só quem realmente se ama consegue sentir, e diz: "Eu sabia que vinhas!"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Encontro XVII

Quando no dia 20 do passado mês, houve um encontro desastroso com um rail, quando se sente que o controlo deixa de ser nosso e a vida pode chegar ao fim, não é luz, nem paz, é medo o que se sente. 

Encontrar na eminencia do fim a força para recomeçar, é um trabalho diário e custoso. A cada instante a lembrança do terrível encontro surge sem que se consiga controlar. As noites são repletas de sobressaltos em que imagens, sons e palavras tomam conta de toda a tranquilidade que o leito de repouso devia permitir. 

Passado o susto, e consciente de tudo o que podia ter acontecido e não aconteceu, é tempo de agradecer a Deus por ali ter estado, naquele momento em que tudo podia ter chegado ao fim. Com poucas marcas físicas, ficam as outras, as que vã durar para sempre, aquelas que nunca vão deixar esquecer o que naquela tarde de dia 20 aconteceu. 

E fica este dia marcado como um ponto de viragem no caminho de uma vida. Pela forma como se passa a olhar para o caminho, como se passa a respeitar o inesperado, como se começa a entender que não temos que ter o controlo de tudo para sermos felizes. Mas mais que isso, foi num momento de "partida" que se deram os primeiros passos oficiais para o"começo".  

Quase três semana depois, a imagem não foi embora, o som ainda cá está, o medo teima em reaparecer, mas a certeza de que começa uma nova vida é grande, a sensação de que é uma nova oportunidade faz passar o medo e a angustia das recordações. 

Sem falar dos contornos estranhos do acidente, quero deixar a ideia de que o Bem vence sempre o Mal! 

Ainda por aqui ando, consciente que não controlo quando deixarei de andar!