quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Porquês XVIII


Hoje fica apenas a pergunta:

Porque é que ano após ano esta é sempre das fases mais difíceis do ano para mim? Quando há mais dor e sofrimento? Perdas, lágrimas... Porquê sempre no final do ano?

Pessoas VIII - A PESSOA

Há um caminho que não sei voltar a percorrer, não sei de onde vim, nem como vim... Sei apenas que tu caminhas lado a lado comigo. Num caminho que agora se mostra tão difícil de seguir juntos... Num caminho que desde ontem parece repleto de areias movediças, águas cheias de piranhas... 

Quando te olho, vejo o menino que se viu obrigado a crescer por erros da irracionalidade. Vejo um homem perdidamente apaixonado, capaz de fazer tudo para viver esse amor. Vejo um pai preocupado, com os filhos (reais, hipotéticos...), com medo de os perder ou não os vir a ter... 

És duro e distante quando queres que se perceba que estás magoado. És meigo, doce, sincero, transparente... e se é bom sermos translúcidos, pelo menos aos olhos dos que amamos, é também tornar-mo-nos vulneráveis. 

É simplesmente indescritível o que me fazes sentir quando pousas a tua mão na minha... quando me olhas, como se quisesses entrar na minha alma... e entras mesmo, e consegues lê la, senti-la... nem sempre percebe-la, mas consegues lá chegar... 

Gosto da forma como te preocupas, como queres fazer parte de tudo, do que é só meu, do que é meu e de outros... não importa, se é meu, tu queres fazer parte, ser útil  ajudar... às vezes dás a ideia de me querer levar ao colo pela vida, para eu não me cansar, para não me magoar, como se fosse uma boneca frágil que tu não queres, de forma alguma, perder. 

Se te mando embora tantas vezes, é por, muitas vezes, não conseguir acreditar que alguém me pode amar assim... 

"longe da vista, longe do coração", não concordo com isto, se olharmos pelo lado de deixarmos de amar ou de nos preocupar, mas concordo se pensarmos que assim é mais fácil andar embora alguém ainda que o amemos...  não temos que o enfrentar e isso facilita tudo. Torna mais simples de dizer o que não se sente, ainda que nos mate por dentro na mesma. 

Quase dois anos depois da criação deste blog e 7 pessoas antes de ti, hoje chegou o dia que eu pensei que não chegaria mais... SIM... SIM, eu fico, eu visto a roupa da batalha e entro neste caminho de areias movediças contigo... rumo a um objectivo comum: S&C&R&M&M!

Há olhos que no silêncio do encontro nos falam à alma e mostram o que de mais puro há num ser... Os teus olhos são assim... é só por isso que preciso de te ver todos os dias, para sempre, até que a vida nos leve para longe daqui... 

Amo-te!

domingo, 18 de novembro de 2012

Encontros XV

Nas arrumações da vida, encontram-se cartas guardadas nas gavetas da alma, que são pedaços da nossa historia, como paginas soltas do diário do nosso caminho.

Quando se organiza por datas, ou por temas, encontra-se o sentido de um caminho que muitas vezes nos pareceu sem sentido... é nos encontros inesperados das palavras esquecidas pelo tempo, que relembramos quem fomos e já não somos, quem tínhamos e já não temos e percebemos o que afinal nos fez encontrar a pessoa que somos hoje.

Quando abrimos todas as gavetas da alma, quando tiramos tudo la de dentro,quando olhamos para cada objecto que la estava e tudo baralhado faz afinal um sentido mais profundo do que fazia tudo arrumado, é sinal que estamos a crescer...

A carta que foi escrita há tantos anos que nos levou ao esquecimento da sua existência  aquela que ja não podemos ler, porque um dia a resolvemos deitar fora, aquela que sabemos que tinha palavras de sofrimento, mas de um amor que não chegou a ser mais do que uma ilusão, traz ao de cima a recordação do encontro naquele ano, naquele dia, naquele momento de entrega sem medo...

"Se não fosse amor, não haveria planos, nem vontades, nem ciumes, nem coração magoado. Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão. Se não fosse amor, não haveria saudade, nem o pensamento o tempo todo em ti."

Resta encontrar quem escreveu a carta que hoje voltou a sair da gaveta da alma, da alma perdida, e presa na gaveta fechada há tanto tempo quanto o da escuridão da alma...

Encontrar a luz é sinal de que se não fosse amor a escuridão continuaria a existir... 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Crianças IV

Há na gestação a magia do desejo, da ilusão, do sonho, do medo... Há na sensação de ter a crescer dentro de nós um ser humano uma força maior que nos faz mover céu e terra, que nos faz acreditar que nenhuma luta é inglória se for para ver um novo ser sorrir para nós...

Um bebé que nas primeiras semanas não passa da união de dois seres, transforma-se no medo, na ansiedade e na felicidade da concretização de um amor. As expectativas e os sonhos dominam os dias, as noites, todos os pensamentos são para aquela nova ideia, aquele novo sonho... 

Quando de um amor surge uma representação física e inseparável, nasce a certeza de um caminho de união... de um futuro compartilhado...

O sonho desvanece e fica o vazio da ausência de quem nos acompanha sempre e para todo o lado, fica a ausência do sentido de existência, fica o medo de não poder vir, um dia, a ser real... 

E a alma dói, e o ventre reclama o vazio, e os olhos ficam cheios... cheios de lágrimas... de alivio? de dor? Na verdade é o silêncio que se transforma em lágrimas...



"é o silêncio que muitas vezes nos permite começar a plantar e a colher flores, para mais tarde as colocarmos no caminho... é o som do silêncio, só entendido por alguns, que nos permite viver profundamente a sinceridade e a concretização da doação ao outro"
E é este mundo só de uma mãe e de um filho que nenhum pai no mundo conseguirá entender... 


sábado, 10 de novembro de 2012

Erros VI

"(...)já tive daqueles abraços. São tão bons. São os abraços de quem sabe que Ama e que é Amado, mas para cujo Amor o que se sabe não chega. Não é suficiente. Precisa-se do toque da mesma forma que se precisa de respirar. Por isso mesmo é que aquele abraço ainda não se desfez. É um abraço que estava com falta de ar. " (B.A.)

O corpo pede toque, mas mais do que sentir outro corpo, o corpo pede afecto... como se o afecto do toque de outro corpo fosse a capa protectora do nosso, como se fosse a superfície invisível sem a qual a nossa pele não conseguiria existir. 

O toque de uma mão na nossa, quando as lágrimas nos saltam dos olhos, o toque de uns lábios numa testa quando não há palavras a dizer, uma cabeça encosta num peito, quando o peso do mundo parece estar em nós... 

Um abraço apertado quando a vida do mundo cresce em nós...

Abraços são gestos de ternura, de afecto, de Amor... Abraços são momentos de entrega sincera e profunda de dádiva de nós mesmos. 
Abraços são no fundo o momento em que o mundo pára e o tempo conta ao contrário... Abraços quentes e abraços longos...  Abraços de corpos e abraços de almas...

Quando o aperto de um abraço nos tira o ar e ainda assim queremos manter-nos nos braços de alguém, é porque mais que o ar, o nosso corpo, a nossa alma e a nossa vida pediam o toque profundo e sincero de um corpo que nos quer bem... 

Onde está o erro aqui?
Está em quem diz que não se devem pedir abraços, que estes devem ser dados por iniciativa dos outros... é errado não reconhecer que, há dias, em que o abraço nos faz mais falta que o ar!

Desabafos XXV


"Eu não tenho amigos, tiro é a camisa por todos os que precisarem que eu o faça, porque são pessoas, tal como eu. Ser amigo é muito mais fácil do que isso. Se uma amizade não for fácil, então não é amizade." (B.A.)

Há dias que me pergunto isto... Será que tenho efectivamente amigos? Dou por mim a pensar se o facto de irmos fazendo outras escolhas na vida que não as de ficarmos muito próximos dos nossos "amigos" nos tornam piores pessoas? Nos tornam descartáveis e invisíveis... 
Se por um lado quem se afasta, por razões que não a da falta de carinho, devia tentar manter o contacto, por outro, também quem fica, se a amizade for verdadeira, devia tentar manter-se presente e próximo. 

"se uma amizade não for fácil, então não é amizade"... Nunca pensei dizer isto, mas começo a concordar... pode ser qualquer outra coisa, interesse, carência... não sei... mas a amizade é simples, é fácil...

Ainda que hoje tudo pareça confuso, dói sentir que ao longo de alguns anos, dei a camisa por muita gente que hoje nem se lembra que eu existo e apenas porque resolvi ser quem sou, e seguir o caminho que achei que era o melhor para mim... importa referir, que esse caminho nada tem a ver com estas amizades, apenas me deixa menos tempo para elas...  Mas isso é motivo para me apagarem de dentro deles?

Se um dia sentir que fiquei sem amigos, terei a certeza de uma coisa, não eram amigos... eram pessoas... apenas pessoas...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dias XXIV

Um dia vou saber o que fazer à minha vida...

Há dias, em que há uma sentimento de desorientação...  não se sabe que caminho seguir... o A, o B ou o C... 

Parece que tudo é desfocado, não se consegue definir o futuro, o caminho que fará chegar ao objectivo maior que é a felicidade... 

Quando se perde o rumo, o sentido e a certeza do que fazer, é difícil definir como lá chegar...

Quando a escolha não é conhecida, quando a cor da alma está por definir, a agitação da mente é maior que o bater do coração e com isso, os olhos turvam, as luzes desfocam e o caminho fica difícil de ser percorrido. 

Um dia saberei afinal o que é a minha vida... até lá vou tentando acalmar a mente, o coração e deixar os olhos ver como percorrer o caminho da existência... 

Cafés XXI

Lembras-te do primeiro café que tomámos juntos? Lembras-te quando foi? Onde foi?

Hoje voltei lá, mas sozinha. Sentei-me na mesma mesa, na mesma cadeira... Mas desta vez era a porta que via e não o teu sorriso.

"Era um café, por favor."

Voltar ali, lembrando-me de ti, e do nosso café foi estranhamente bom. Não dói, nem causa tristeza.

Quando o passado se torna presente por uns instantes e tem um sabor agradável é bom deixa-lo acontecer.

Levei mais de 30 minutos ali sentada a sorrir de frente para uma porta que deixava entrar um frio que não me fez querer ir embora.

Ainda que o teu café seja amargo, o meu é doce e será sempre... Fica uma boa lembrança, um aconchego que não quero esquecer... fica o sabor forte de um café de edição limitada.

Daqui a 10 anos vou lá voltar, sem ti... e talvez sem me recordar do que ali aconteceu e de quem eras... talvez daqui a 10 anos volte a saber quem és!

Mas hoje, fica um sabor doce... hoje voltei a tomar café contigo, ainda que tu não o tenhas tomado comigo!

Histórias XXXV

A casa estava vazia, o frio fazia-se sentir lá fora, mas também cá dentro. Há anos que ninguém morava naquela casa que fazia parte da família desde sempre.

Entrou, olhou em volta, estava tudo arrumado e limpo... é a sorte de ter quem lhe cuide da casa mesmo quando está ausente.

Era altura de se afastar da agitação constante da sua vida naquela cidade onde tantos andam e tão poucos caminham rumo a algo maior. Precisava de se ausentar física e mentalmente da sua rotina de todos os dias. Foram anos a viver dia a dia sem parar de pensar no trabalho e nos problemas, estando sempre a pensar novos desafios e projectos profissionais. Anos de um grande desgaste que agora sentiu estar a chegar a um ponto onde era preciso PARAR!

Foi até à cozinha, pôs água a aquecer, foi acender a lareira... fez um chá, pegou nele entre as suas mãos, sentou-se no sofá com as pernas cruzadas e uma manta sobre as pernas. Ficou de frente para a lareira assim sentada com a chávena de chá entre as mãos a tentar aquece-las... Mas a verdade é que o seu frio não conseguia passar com uma chávena de chá quente e uma lareira cheia de lenha a arder...

Naquela casa o mundo de recordações do passado era imenso, as historias daqueles que antes dela ali viveram, que passaram os seus dias, fazem-na sonhar, tentando imaginar como seria...

É assaltada pela lembrança de que não tinha avisado ninguém de que ali estava, de que tinha resolvido sair por uns dias. Pegou no telemóvel para tentar avisar alguém, mas ali não conseguia estabelecer chamadas... Entrou no carro, foi até à vila, até porque tinha que fazer algumas compras. Chegou à vila, estacionou junto da mercearia, pegou no telemóvel avisou apenas uma pessoa de que ali estava e iria ficar uns dias, não sabia quantos, mas não muitos. Fez as compras e ao sair de volta ao carro, entrava a sua paixão de infância... sorriram, alegraram-se por se terem reencontrado, falaram brevemente sobre a sua vida, o que lhes tinha acontecido em tantos anos de afastamento... Ela convidou-o para jantar nessa noite.

Voltou a casa, preparou-se e preparou o jantar... Jantaram... e no decorrer do jantar, de muitas confissões e conversas em voz baixa, ela soube que ele se tinha casado e tinha dois filhos, estava agora a sair de casa... O coração parou-lhe por alguns segundos... A sua paixão de infância já tinha encontrado o amor...
Talvez pelo efeito do vinho, ou dos sentimentos que emergiram ao fim de tantos anos, olharam-se nos olhos e tiveram uma das conversas mais sinceras e intensas que alguma vez algum deles tinha tido... falaram das feridas e das alegrias da sua vida, e do que estavam a sentir um pelo outro...
Ele foi embora, ela ficou...

Ficou claro dos dias seguintes que ela tinha medo de avançar, pela incerteza do que sentia, pela certeza de que não queria estar envolvida no fim de uma relação, porque a culpa a dominava...

Uma noite, depois de jantar, tiveram uma discussão acesa, ele foi embora, ela ficou... Passaram dois dias e nenhum disse nada...
A um dia de ir embora, e sem noticias, sabia que: "No dia seguinte, ou alguém cedia, ou cada um seguiria para seu lado..." (B.A.)

Ninguém cedeu... ela voltou à sua vida, ele recuperou o seu casamento...