quinta-feira, 19 de julho de 2012

Porquês XVI

"O que é que faz uma pessoa desistir de amar? Desistir de sentir saudades, de lutar até ao último suspiro e de se entregar?
Vejo tantas pessoas que não sentem nada.
Nem a felicidade do amor correspondido, nem a dor do amor despedaçado.
Percorrem  um filme a preto e branco, sem a intenção de o colorir.
Prefiro acreditar que os corações às vezes ficam em stand by... à espera de serem salvos."

Quando chega o ponto em que se desiste, quando se deixa de sentir... quando a dor e a alegria se perdem numa confusão de sentires não sentidos, é a ausência de sentido de existência... é a angustia de sentir sem sentir... é desejar sem ter desejo... 

Uma vida, flutuante, sem sorrisos ou lágrimas... uma ferida que não sangra nem cicatriza... 

"lutar até ao último suspiro e de se entregar"... talvez o último suspiro já tenha acontecido, e na verdade se tenha lutado até lá... apenas ainda deambula um corpo por um caminho a preto e branco, onde a vida já se foi e onde já nada mais há para entregar, nem porque que se entregar. 

Há momentos na vida em que o tempo não para, mas a vida parece parar, um pouco como se entrássemos em estado de coma profundo, em que tudo acontece à nossa volta mas quem lá está não se apercebe de nada. 

Mas há situações, em que num momento há uma luz protectora que salva os corações parados e as vidas reservadas... 

Nem sempre há luz, alguns têm a sorte de a encontrar, outros deambulam filme a dentro sem cor, sem cheiro, sem sentimentos... até que um dia a luz que mantém o corpo por cá se apaga e partem, sem terem feito história, sem terem deixado marcas, sem deixarem saudade... 

Corpo e alma, caminham para a ausência da luz...



terça-feira, 17 de julho de 2012

Erros V

"Numa hora ou noutra o destino resolve-se, tudo encontra o seu lugar, o passado é esquecido, as feridas cicatrizam. Quem tem que ficar fica, o que é verdadeiro permanece, e o que não é vai embora."

Há fases de vida em que se torna evidente como o destino se tenta ajeitar, até encontrar a forma certa de nos levar onde devemos chegar. Aos poucos, tudo vai encontrando um lugar com tamanho certo, onde cada coisa cabe sem ficar apertada ou deixando demasiado espaço desocupado. 

O passado, aos poucos vai caindo no esquecimento dos dias, sem nunca passar a uma amnésia total. Transforma-se num conjunto de acontecimentos que só são recordados em circunstancias especificas, já não são recordados todos os dias, em cada acordar, em cada deitar... 

As feridas, que tanto doeram, que tantas lágrimas causaram, vão fechando aos poucos, lentamente, para não correr o ricos de voltarem a abrir, pretende-se uma cicatrização eficaz. As feridas que mais demoram a cicatrizar são aquelas que não se entende como foram feitas, ou porque nos resolveram ferir assim... a falta de sentido dificulta o esquecimento, a cicatrização, a aceitação do que foi e já não é. 

É difícil perceber, à medida que o tempo vai passando, que não podemos levar connosco todos os que vamos conhecendo...  é igualmente difícil perceber que nem sempre as relações se fundamentam na sinceridade... não é fácil tomar consciência que afinal nem tudo o que se vive é real... há quem nos engane, nos tente (e consiga) fazer acreditar que quer o nosso melhor, que gosta de nós e no fim de contas era tudo uma estratégias de vida egoísta, individualista, uma atitude que mais cedo ou mais tarde acaba por ser descoberta... e são estas as pessoas que partem, que pela ausência de verdade no que são e no que sentem não permanecem no nosso caminho, na nossa vida, não fazem parte do presente ou mesmo do futuro... são aquelas pessoas que fizeram feridas, mas passaram também ao esquecimento do passado... Pessoas que vão embora, muitas vezes por elas próprias, e ainda assim ficam em nós mais um tempo, até que, há um dia, em que as mandamos embora de dentro de nós, porque já não nos fazem sentido, porque é preciso fazer a limpeza da alma... 

Deixar ficar quem nos faz sentido, ainda que por vezes seja difícil ficarem, por tudo o que é preciso lutar para que tal seja possível... Lutar e acreditar dia a dia que quem fica é quem vale a pena... que tudo tem um motivo e que tudo tem um tempo e um lugar para ficar ou para partir... 

Hoje, resolvi ficar, depois de durante muitos dias ter pensado partir... 


sábado, 14 de julho de 2012

Cafés XIX

Adiando a consciência da vida, adiam-se decisões, sentimentos, emoções, lágrimas, sorrisos... Por muito que a vida nos parece demasiado curta para se pensar demasiado, há momentos em que é imprescindível parar, pensar, pesar prós e contras, decidir caminhos...

Há momentos em que é preciso decidir o que se guarda do passado e como se guarda, é importante perceber o que se quer do futuro e como se quer la chegar... 

Um pensamento depois do outro, uma dúvida somada a outra, um conjunto de incerteza que impedem um caminho sem amarras, sem dúvidas...

Há cafés que nos deixam com medo... Há cafés que sabemos que serão dolorosos, não pelo que no fim será a sua conclusão, mas por aquilo que teremos que revelar. Nos momentos em que sentimos que as nossas capas têm que ficar arrumadas e temos que ser nós por inteiro, sem protecções, desculpas, sem desvios de assunto, conscientes que teremos que passar para palavras aquilo que nos atormenta o pensamento e a alma, é difícil não ficar com medo...  

É bom partilhar o gosto pelo café com alguém, é bom sentir tranquilidade ao lado de alguém, é bom sentir que o mundo desaparece quando estamos ao lado de alguém, é demasiado cruel sentir que tudo o que é bom é condenado, e errado à luz da sociedade e por mais que gostássemos que não, à luz da nossa consciência... 

Viver perigosamente tem um preço que nem sempre somos capazes de pagar... vale a pena? 

Um café, transformado em chá, que no fim talvez seja um copo de lágrimas...