Histórias XXVI

Numa noite fria de Inverno, em mais uma noite de solidão, ele senta-se no chão do quarto, apenas com a luz de algumas velas, pousa junto a si a chávena de chá que lhe tenta aquecer o corpo e a alma. 

Os últimos tempos não têm sido fáceis. Aquilo que sempre pensou ser inabalável, começou a ruir a pouco e pouco e não consegue perceber se o deve reabilitar ou se por outro lado, o deve desmoronar de vez. 

Pergunta-se se a nova luz não é apenas reflexo da solidão, da carência... se não resulta apenas da necessidade de se sentir amado... 

Pega na chávena, bebe um gole de chá e continua gelado, mais a alma que o corpo.  

Gosta dela, gosta de estar com ela e gosta das conversas que partilham... talvez esse fosse o caminho que queria seguir, mas a escolha que fez no passado parece não lhe permite seguir este rumo agora... Ou será que basta ousar mudar o rumo? 

Sente-se mais perdido a cada ideia que lhe invade o pensamento. As novas responsabilidades pessoais, o novo rumo profissional, tudo isto parece jogar contra esta nova luz... Deixa-se dormir com a ideia de que se esta luz se mantém acesa mesmo perante todas estas adversidades é por alguma razão. 

Acorda no dia seguinte, dorido e sem saber o que fazer... sente-se perdido, responsável por um sofrimento que não queria causar e que julga existir... sente-se mal pelo que de incorrecto fez até aqui... Continua sem saber que rumo seguir... 

É hora de enfrentar o mundo, de ser feliz, de ficar sereno... é hora, é tempo... Tem o dever, até pelo exemplo que deve dar à sua nova responsabilidade pessoal, de construir o seu caminho de felicidade e não deixar-se levar pela corrente da sociedade... 

Respira fundo, liga-lhe e dá o primeiro passo no sentido que escolheu para o seu futuro, consciente que todos os caminhos têm momentos bons e maus, buracos e pontes... e que o que na vida nada é simples e fácil... mas que tudo o que realmente queremos é possível, basta acreditar...

Dias XVI

Um dia vou concretizar estes 10 mandamentos:

"Os dez mandamentos da serenidade

1. Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez;
2. Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém, não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão a mim;
3. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste;
4. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias se adaptem todas aos meus desejos;
5. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma;
6. Só por hoje praticarei uma boa acção sem contá-la a ninguém;
7. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém o saiba;
8. Só por hoje farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão;
9. Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim, mesmo se existisse só eu no mundo – ainda que as circunstâncias manifestem o contrário;
10. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade." (Papa João XXIII)

Talvez esse dia seja hoje... ou talvez seja só amanhã... Mas um dia estarei completamente serena... um dia... 

Encontros V

Daqui a umas horas há um encontro esperado com 2012... 2011 chega ao fim com um sabor estranho. Não sei se foi um ano positivo ou negativo. Foi um ano com muitas coisas boas e muitas coisas más. 

Foi um ano em que entrou muita gente nova na minha vida, foi um ano em que me permiti crescer, em que me isolei daqueles que já faziam parte da minha vida. Foi um ano de estudo, de trabalho, de reconhecimento, de dádiva... 

Afectos:

2011 foi o ano que comecei com alguém por quem hoje guardo uma recordação serena... alguém que espero que esteja feliz e realizado, que tenha encontrado o seu caminho, a sua verdade... 

2011 foi o ano em que te deixei no passado, levou muito tempo a que isso se concretizasse, mas acabou por acaontecer... foi o ano em que ficaste guardado apenas como uma lembrança daquilo que eu fui e não quero continuar ou voltar a ser. 

2011 trouxe de volta à minha vida alguém que esperava que ainda cá estivesse, e que já não está... alguém de quem já não quero mais falar... e este é o balanço que não quero fazer... sei que existiu, mas prefiro não pensar... talvez um dia consiga voltar a reflectir sobre esta pessoa...

2011, foi ano de festas e casamentos... alegria, nostalgia...

2011 trouxe o reafirmar de amizades do passado, fez-me perceber quem deve ficar e quem já não faz mais sentido...

2011 deu-me a conhecer muita gente nova, pessoas boas, outras menos boas... mas trouxe a lufada de ar fresco que a minha vida precisava...

2011 fica marcado por ti... porque surgiste mais na recta final, mas também porque és a imagem da minha mudança, do meu crescimento, do meu amadurecimento... e talvez acredite que sejas a imagem do meu futuro... 

Conquistas:

Sonho, este ano realizei um sonho de há muitos anos e foi muito bom... dar aulas era talvez dos sonhos mais antigos e mais desejados... foi o início de 2011 que me deu a hipotese de o realizar e foi... foi simplesmente, sublime...

Desafio, pós-graduação, entrada no mestrado... a minha vida académica continua a ser desafiante, motivadora e dos principais pilares da minha existência.

A palavra que me fica de 2011 - RESILIÊNCIA

Hoje, parto para 2012 sem expectativas... Não há lista de desejos , nem desafios... 2012 será vivido, com alegria, um dia de cada vez, com aqueles que realmente me fazem bem... E é com eles que quero ir desejando, sonhando e desafiando a vida...

Cafés XI

Último café de 2011... Volluto diz a nespresso aqui de casa... Porque é assim que quero beber este último café que aqui escrevo... levemente...

Um café leve, doce, cremoso, um café para ir saboreando à medida que se vai recordando todos os cafés que bebi ao longo deste ano e foram muitos, com muita gente diferente. Cafés sérios, cafés de encontro, cafés de despedida, cafés de amizade, cafés de dor, cafés entre amores e entre amigos, cafés em família... cafés em casa, junto ao mar, junto ao rio, junto à serra, junto ao campo, no meio da cidade, junto à estrada...

Agora que paro para pensar, talvez tenha sido mesmo essa a maior paixão que descobri este ano, a paixão pelo café... e é engraçado como atrás dessa paixão veio outra...

O café está na minha secretária, aqui ao lado, à espera de ser degustado. Estou sentada no meu quarto, na minha secretária, sozinha... Quero partilhar este café com duas pessoas:

mr - por ao longo de todos estes anos teres conseguido manter, reinventar e cultivar a nossa amizade. Por teres sido companhia e motivo de vários cafés. Por seres animo,  por não desistires, por resistires...

ca - por teres ousado aparecer, por teres mostrado quem és, por ficares um dia depois do outro... por partilhares o gosto pelo café e pelos momentos pré e pós cafeína... mais, por me ensinares a importância da fotografia ocular ;)

Hoje, são vocês os dois que estão aqui sentados ao meu lado, um dia, quem sabe, não estaremos mesmo os três numa mesa de café...

Desabafos XV

" A Dra. ig é uma pessoa muito especial. Assim que olhei para si, percebi que tinha um coração bom"

E hoje fiquei sem jeito... não por ter ouvido isto, porque a verdade é que volta e meia, algumas das pessoas com quem trabalho dizem-no. O que nunca me tinha acontecido foi, depois de ouvir isto, ficar lavada em lágrimas por tudo o que se seguiu. Gosto de manter uma postura profissional assertiva, gosto que as pessoas sintam que as entendo, mas que sou apenas uma profissional. Hoje, simplesmente não me consegui conter. 

Saber o segredo de alguém que mal conheço, um segredo de mais de 40 anos, uma história importante na vida de qualquer um... sentir que sou confiável a este ponto... foi isto que me fez desabar... e eu raramente choro em frente a alguém... 

Ontem, comentava que este ano que chega ao fim não deixa boas recordações... foi um ano de umas quantas perdas... um ano de batalhas perdidas... dizia que o animo para sonhar o próximo ano não era muito... Ontem estava triste, na verdade, muito triste... Ontem deitei-me tarde, dei voltas e voltas na cama, até que me sentei e fiquei a olhar para o vazio... a pensar em qual era o sentido da minha existência, a pensar em qual era a razão da minha estadia neste tempo, a pensar em qual seria a minha missão neste mundo... e sim, chorei, solucei... acho que há muito tempo que não chorava assim... 

Hoje aconteceu isto... talvez a minha passagem por estas bandas tenha este objectivo...

Cheguei a casa muito cansada, com a sensação de que me tinham consumido a energia por inteiro... cheguei confusa, cheguei triste... porque se só 40 anos depois aquela pessoa teve a quem contar aquele segredo, é porque até aqui ninguém perdeu 5 minutos a dar-se por inteiro a esta pessoa... e isto é triste... passar a vida sem se dar por inteiro a ninguém... 

 

Cheguei triste porque ainda não aceitei que sou feliz!!!

partilhas XXIII

"Em 2012 (Sagitário) - Resoluções de questões emocionais e familiares. Ano com mudanças significativas em sua vida."

Será?! Será que é 2012 que vai trazer, finalmente, a mudança à minha vida? Resolução de questões também me parece muito bem, porque na verdade os últimos anos têm sido de adiamento de resoluções... 

 Andava para aqui desanimada com o final do ano e a entrada no novo ano, porque não tinha grandes expectativas para 2012, mas esta frase deixou-me animada... Não sei bem se acredito nestas coisas, mas agora apetece-me muito acreditar. Apetece-me muito acreditar que 2012 será um ano de resoluções e de mudança... 

 

Ano Novo, novas pessoas, novos desafios... Em 2011 fica o que e quem já não tem mais espaço na minha vida, quem e o que já não me faz bem...

Que venha 2012! 

Histórias XXV

Os últimos dias foram de azafama para ter tudo pronto a tempo. Entre presentes e compras para o jantar não pararam para se sentarem a beber um chá calmamente...

Passou o dia na cozinha com a mãe, a preparar tudo para a ceia de Natal, tradição de há muitos anos passarem a manhã e a tarde da Véspera de Natal as duas na cozinha a preparar os doces, as entradas, o jantar...

Tudo pronto na cozinha, mesa posta, vai arranjar-se. Banho tomado, escolheu o vestido preto para usar nesta noite especial. arranja o cabelo, preso em cima para fazer realçar o seu olhar e o seu sorriso, que hoje brilha ainda mais. Está pronta, volta à cozinha para os últimos retoques e tocam à campainha...

Tinham escolhido esta noite, para o primeiro jantar em família. Não era a primeira vez que ele lá ia a casa, mas era a primeira vez que lá ficava mais de 20 minutos. Era o primeiro Natal que iam passar juntos. 

Abre-lhe a porta com as mãos a tremer e o coração aos pulos... Ele entra, sorri-lhe, abraça-a e da-lhe um beijo leve... Diz-lhe baixinho: "és linda minha princesa!"

O resto da família chegou e passaram uma ceia agradável a rir, conversar... a deixar entrar aquele novo elemento nas suas vidas, na sua família. 

Depois de trocarem as prendas e de todos se irem embora, acompanha-o ao carro, entra, ficam a conversar até tarde... falam da noite, do que viveram até ali, do caminho difícil que tiveram que percorrer, mas de como valeu a pena... 

Naquela noite, tiveram a certeza de que  tinham encontrado o seu caminho, o seu projecto de vida, o seu futuro... Lado a lado...

É Natal nas suas vidas... a verdadeira essência do Natal chegou aos seus corações!

Encontros IV

Este ano percebi, pela primeira vez, o quanto o Natal é uma época de dor e tristeza para muita gente. A quantidade de lágrimas que se choram estes dias é enorme, o número de pessoas que forçam um sorriso quando se fala do Natal é muito maior do que aquele que eu pensava. 

Natal é tempo de celebrar o nascimento do Deus menino, é tempo de esperança, de acreditar que pode nascer dentro de nós uma nova luz, com a força, a vitalidade e o futuro que só os bebés têm... Mas na verdade, para muitos, Natal é tempo de encontro com recordações do passado, de encontros com mesas e casas vazias, vazias de gente, vazias de alegria, vazias de luzes, vazias de sentido, vazias de vida...

Natal é tempo de encontro da família, de reunião à mesa, de passar horas na cozinha a preparar tudo (e o que isso me deixa feliz), de chegar à noite cansada mas feliz... com a casa de pantanas, mas com força para no dia seguinte voltar a te-la cheia de gente... Natal é tempo de confissão, de perdão... Natal é tempo de amor... Natal é tempo de família...

Este ano tinha vontade de pegar e ir passar o Natal com duas ou três pessoas que se agarraram a mim a chorar a dizer o quanto o Natal as deixa triste... pessoas que vão ficar sozinhas... verdadeiramente sós... porque nem com elas próprias estão... Hoje, doeu-me muito perceber isto... Hoje talvez tenha valorizado ainda mais o que tenho... e quem tenho ao meu lado...

O meu único desejo para este Natal, é que ninguém se sinta só... é irrealista, eu sei... Mas na verdade queria que todos se encontrassem, pelo menos consigo próprios...   

Que este Natal, nasça essa luz de força para nos levar ao encontro da felicidade!

Porquês x

Porque é que não consigo ter uma vida normal?

Cafés X

Vou retomar um convite que fiz há uns tempos, na verdade já houve cafés, por isso o convite já foi aceite, mas hoje quero voltar a convidar desta forma... não por ser mais ou menos especial, mas porque me faz lembrar os primeiros passos deste caminho...

Quero um café com luz, não à noite... Quero um café com vista para o mar e não na serra... Quero um café seguido de um passeio calmo, sem pressas...

Queria estar contigo naquilo que és, queria partilhar o café e a tua essência... aquilo que foste, o caminho que escolheste ou aconteceu até aqui... Queria na verdade saber o que faz de ti a pessoa especial que és... E não, não quero um café de compromisso ou de futuro, quero apenas um café de amigos, de encontro e reencontro, de partilha... 

Iniciei esta categoria, neste blog, dizendo que já não tinha com quem partilhar o gosto pelo café, hoje digo que voltei a ter na minha vida alguém com gosto pelo café, pela conversa e com quem eu me perco horas a conversar (entenda-se efectivamente conversar...) sem dar conta disso e a sentir-me plena...

Queria um café no teu sitio, queria poder entrar nesse teu espaço, queria sentir que tudo isto tem um sentido e que esse sentido é pelo menos este incrível acaso da vida de nos termos encontrado e de termos esta imensa capacidade e vontade de conversar um com o outro... Gosto de te ouvir e gosto que me oiças... Gosto que me permitas falar contigo, gosto que fales comigo...

Aceitas um café no teu espaço do passado, onde se perca a noção do tempo, onde nos percamos nas conversas da alma?