terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Histórias XXVIII

Enquanto esperava pela companhia para o jantar, aproveitou os raios de sol que ainda se faziam notar, naquela tarde fria de inverno. Ficou sentada dentro do seu carro, de frente para um  jardim, com o olhar fixo nas escadas que estavam mesmo á sal frente. Aquelas escadas tinham alguns degraus maiores, que permitiam à senhora mais velha que as subia ir descansado…
A companhia chegou, entrou no carro e em resposta ao “boa tarde” ela respondeu:
“Já reparaste como a nossa vida também é assim? Ao longo do caminho vamos tendo degraus mais compridos que nos permitem ir descansando, nos dão tempo para reflectir e ganhar força para continuar a subir ou para decidir descer”…

Ele, olhou-a surpreendido e pensou que ali vinha um jantar diferente daquele que ele tinha planeado. Faziam 3 anos de namoro naquele dia. Ela sabia que o pedido de casamento vinha a caminho… mas não sabia se o queria aceitar. Já tinham falado de casamento, de como o pensaram cada um… mas ultimamente ela evitava o assunto… Na verdade, sentia que aquela relação que vivera estes anos e que sempre a preenchera, não era a mesma, já não a fazia sentir-se tão realizada como fizera em tempos. Questionava-se se seria normal, se com o passar do tempo era normal o sentimento alterar-se… Mas ainda assim, começou a evitar falar ou pensar no assunto. Hoje, sabia que era o temido dia. Passou horas em casa a pensar em como lhe iria dizer que ainda não tinha chegado o momento, que talvez tivesse, os dois, que fazer um balanço e uma reavaliação da relação. Na verdade, ela já não se sentia parte daquele projecto, mas não sabia como dizer-lhe…

Seguiram em silêncio… Jantaram sem tocar no assunto, falaram de coisas normais do dia-a-dia.  Ela levou-o a casa. E quando estacionou ele pergunto-lhe se não queres subir?

“sabes, acho que estou no degrau mais comprido… com a vista que tenho daqui sinto que foi incrível subir contigo, subimos lado a lado, deste-me a mão quando caí… Mas a minha escada muda de sentido… Não vou descer, simplesmente vou virar… E neste novo caminho já não subo para tua casa”

Ele olhou-a, deu-lhe um beijo na testa, saiu…
Ela ficou a vê-lo subir aquelas escadas, degrau a degrau. Três anos depois percebera que ainda não estava no caminho certo. Quando tentou alcançar a mala no banco de trás percebeu que ele lhe tinha deixado o anel… o anel de noivado…  

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