quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Histórias XXXV

A casa estava vazia, o frio fazia-se sentir lá fora, mas também cá dentro. Há anos que ninguém morava naquela casa que fazia parte da família desde sempre.

Entrou, olhou em volta, estava tudo arrumado e limpo... é a sorte de ter quem lhe cuide da casa mesmo quando está ausente.

Era altura de se afastar da agitação constante da sua vida naquela cidade onde tantos andam e tão poucos caminham rumo a algo maior. Precisava de se ausentar física e mentalmente da sua rotina de todos os dias. Foram anos a viver dia a dia sem parar de pensar no trabalho e nos problemas, estando sempre a pensar novos desafios e projectos profissionais. Anos de um grande desgaste que agora sentiu estar a chegar a um ponto onde era preciso PARAR!

Foi até à cozinha, pôs água a aquecer, foi acender a lareira... fez um chá, pegou nele entre as suas mãos, sentou-se no sofá com as pernas cruzadas e uma manta sobre as pernas. Ficou de frente para a lareira assim sentada com a chávena de chá entre as mãos a tentar aquece-las... Mas a verdade é que o seu frio não conseguia passar com uma chávena de chá quente e uma lareira cheia de lenha a arder...

Naquela casa o mundo de recordações do passado era imenso, as historias daqueles que antes dela ali viveram, que passaram os seus dias, fazem-na sonhar, tentando imaginar como seria...

É assaltada pela lembrança de que não tinha avisado ninguém de que ali estava, de que tinha resolvido sair por uns dias. Pegou no telemóvel para tentar avisar alguém, mas ali não conseguia estabelecer chamadas... Entrou no carro, foi até à vila, até porque tinha que fazer algumas compras. Chegou à vila, estacionou junto da mercearia, pegou no telemóvel avisou apenas uma pessoa de que ali estava e iria ficar uns dias, não sabia quantos, mas não muitos. Fez as compras e ao sair de volta ao carro, entrava a sua paixão de infância... sorriram, alegraram-se por se terem reencontrado, falaram brevemente sobre a sua vida, o que lhes tinha acontecido em tantos anos de afastamento... Ela convidou-o para jantar nessa noite.

Voltou a casa, preparou-se e preparou o jantar... Jantaram... e no decorrer do jantar, de muitas confissões e conversas em voz baixa, ela soube que ele se tinha casado e tinha dois filhos, estava agora a sair de casa... O coração parou-lhe por alguns segundos... A sua paixão de infância já tinha encontrado o amor...
Talvez pelo efeito do vinho, ou dos sentimentos que emergiram ao fim de tantos anos, olharam-se nos olhos e tiveram uma das conversas mais sinceras e intensas que alguma vez algum deles tinha tido... falaram das feridas e das alegrias da sua vida, e do que estavam a sentir um pelo outro...
Ele foi embora, ela ficou...

Ficou claro dos dias seguintes que ela tinha medo de avançar, pela incerteza do que sentia, pela certeza de que não queria estar envolvida no fim de uma relação, porque a culpa a dominava...

Uma noite, depois de jantar, tiveram uma discussão acesa, ele foi embora, ela ficou... Passaram dois dias e nenhum disse nada...
A um dia de ir embora, e sem noticias, sabia que: "No dia seguinte, ou alguém cedia, ou cada um seguiria para seu lado..." (B.A.)

Ninguém cedeu... ela voltou à sua vida, ele recuperou o seu casamento... 

2 comentários:

  1. Às vezes a vida tem destas coisas...
    É necessário ceder, para chegarmos ao que queremos e assim tentar pelo menos ser feliz!
    Se não der certo, salve-nos a consolação de não termos sido fracos e derrotistas, demos o nosso melhor e arriscamos...
    Se não certo? Tentámos...

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    1. hm... quem disse que não cedendo eles não serão felizes?
      Há vários caminhos que nos levam à felicidade...

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