terça-feira, 23 de agosto de 2011

Histórias IX

Numa tarde sombria de Verão sentou-se na sua cama com a caixa das recordações entre as pernas... uma a uma foi tirando as cartas, as folhas, os desenhos, bonecos, convites, postais... todas aquelas coisas que se vão acumulando com o passar dos anos. No fundo da caixa encontrou um bilhete com esta frase:
"Sou como um livro. Há quem me interprete pela capa. Há quem me ame apenas por ela. Há quem viaje em mim. Há quem viaje comigo. Há quem não me entenda. Há quem nunca tentou. Há quem sempre quis ler-me. Há quem nunca se interessou. Há quem leu e não gostou. Há quem leu e se apaixonou. Há quem apenas busca em mim palavras de consolo. Há quem só perceba teoria e objectividade. Mas, tal como um livro, sempre trago algo de único... o melhor de mim." 
Assim ela dá inicio a uma conversa que durará horas... na verdade é uma conversa solitária entre ela e a sua consciência. 
Passaram anos depois que ele lhe deu aquele bilhete. Estavam sentados lado a lado no muro que separava a estrada do mar... ali ele lhe entregou aquele bilhete com aquela frase e depois foi-se embora, deixando uma promessa de que um dia iria querer voltar aquele livro.
Ela esperou durante anos a fio que ele voltasse a querer lê-la... Mas esse dia teima em não chegar e hoje, passados todos estes anos, ela volta a encontrar aquele bilhete e decide que tem que voltar àquele muro para ver o mar... 
Foi, viu o mar, voltou... lá deixou o bilhete... atirou-o ao mar... hoje percebeu que ele releu o livro muitas vezes, porque levou com ele as páginas que quis guardar... Na verdade aquele livro que ele leu não existe mais, esta nova edição está muito diferente, as actualizações dos anos tornaram-na num livro mais mafuro, mais completo e mais feliz...
Um dia, quem sabe, ele vai perceber que não se devem levar livros inacabados...

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