sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Histórias XXXVII

Deitou-se no final de um dia repleto de imprevistos, com a cabeça cheia de pensamentos duros e questões sem resposta. Uma hora depois ainda não dormia, viu todos os minutos a mudarem no relógio do telemóvel. Olhava para o ecrã do telemóvel sem parar à espera que o relatório, da ultima mensagem que tinha enviado, chegasse, mas desta vez dizendo: "entregue" e não "pendente".

Resolveu sentar-se na cama, puxou os joelhos ao peito, abraçou-os com força e pouso a cabeça em cima deles. As lágrimas começaram a sair uma por uma, como um fio corrente de água sem parar. A angustia de não saber onde estava, de nada conseguir fazer para saber ou para lhe diminuir a dor que sabe o está a  consumir dia a dia, era de tal forma grande que o aperto no peito lhe dificultava a respiração.

Levantou a cabeça, sentiu o telemóvel vibrar... o relatório, finalmente! Na verdade, bastava-lhe saber que ainda estava vivo e bem. Sem ter tempo de enviar outra mensagem, já ele lhe ligava, atendeu e do outro lado apenas ouviu: 


Ela apenas lhe disse entre lágrimas: "Não te vás embora! Não nos deixes assim!"
Do outro lado, continuava a música e sem aviso prévio ele desliga! Tenta ligar-lhe de volta, mas já o telefone estava desligado novamente. Volta a angustia, o medo e a incompreensão da situação. Pergunta-se sem parar porque é que ele não a deixa ficar, porque é que não partilha a sua angustia com ela, nem que ficassem em silêncio, apenas com a cabeça dele no colo dela, à distancia de um ecrã a olharem dentro dos olhos um do outro... Não importa, apenas ali, a ver a alma um do outro... 

Acabou por se deixar dormir por entre lágrimas, soluções, perguntas, medos, angustias, orações... "Que Deus te guarde e nos leve onde achar que devemos ir".

Ao acordar, pela manhã, a angustia já não existia, a preocupação sim, mas o medo já não existia. Tentou ligar-lhe mas o telefone continuava desligado... Arranja-se sem vontade, prepara-se para sair... Sai, dirige-se ao carro e tinha no vidro uma carta: "Vim para ficar!"
Olha à volta... Ele estava ali, em pé, à porta do seu prédio, de onde ela tinha acabado de sair... Dirige-se a ela e diz: "perdoa-me por esta noite, mas eu tinha que vir... sem ti, nada faz sentido... não consigo mais estar longe. Desta vez, vim e fico, não volto"

Ela olhou-o com ternura, com um amor sereno que só quem realmente se ama consegue sentir, e diz: "Eu sabia que vinhas!"

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