sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Historias XXXVI

Ficou a trabalhar até tarde, já todos tinham saído para as suas vidas e ela tinha ali ficado. Era noite de passagem de ano e tinha recusado todos os convites, não queria estar em nenhum daqueles sitios, nem com nenhuma daquelas pessoas.

Foi-se deixando ficar na sua secretaria a resolver assuntos adiados ao longo das últimas semanas, à medida que as horas iam passando. Pegou no telemóvel para ver as horas quando se apercebeu que estava desligado, ligou-o ao carregador, mas esqueceu-se de o ligar. Resolveu terminar mais um documento, e depois ia para casa. 

Mora sozinha há cerca de seis meses e ainda sente um vazio grande quando entra em casa e não tem ninguém à espera. 

Desliga o computador, pega no telemóvel e nas suas coisas e vai embora. Desliga a luz, olhando para trás com um sorriso no rosto, como se ali conseguisse ser feliz por um bocadinho. 

Entra no carro e pensa que não tem nada especial para jantar, resolve parar num restaurante que encontra no caminho e escolhe algumas coisas para levar para casa. Pega em tudo, põe no carro e segue rumo a casa. Pára num sinal vermelho e vem-lhe à memoria a sua passagem de ano do ano anterior... apercebe-se que ainda não fez o balanço do ano, mas rapidamente percebe que muita coisa mudou e muita coisa ficou pelo caminho.

Passa algum tempo à procura de um lugar para estacionar, não queria que fosse longe porque ainda tem algumas coisas para levar para casa. Passa duas vezes perto de um carro que lhe parece familiar, mas não liga. 

Aquela casa tinha sido escolhida pelos dois, mas seria para ele... Ainda lhe dói  pensar que tudo acabou... ainda lhe custa a aceitar que está ali sozinha... Mas sabe que tem que ser assim, não dava mais para continuar a aceitar o comportamento pouco determinado e pior, a agressividade e impulsividade que o tornavam numa pessoa que a assustava. Assim, ele foi embora, e ela ficou... sozinha! Têm sido meses difíceis porque ele não desiste, e ela só quer ser livre e feliz! Nos últimos dias ele deixou de a procurar e ela pensa que talvez tenha decidido começar o novo ano a bem. 

Finalmente encontra um lugar, estaciona, tira as coisas do carro, abre a porta do prédio, sobe as escadas, mete a chave à porta e a porta não estava trancada. Pensa em como é possível ter-se esquecido disso. 

Vai directa à cozinha pousar as compras, depois vai ao quarto deixar a mala e o resto das coisas, dirige-se à sala, acende a luz e dá um grito... 

Talvez ele tenha mesmo resolvido começar o ano a bem... ao lado dela, tal como no ano anterior!

2 comentários:

  1. A vida tem destas coisas... medo, desilusões, discussões, dificuldades... desculpa!
    Mas quando chegamos ao final do ano e fazemos o balanço... então é bom dizer isto e vê-lo acontecer: "Talvez ele tenha mesmo resolvido começar o ano a bem... ao lado dela".

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    1. Começar o ano a bem, é deixar fechadas as portas que nos levam aos quartos onde já não queremos entrar...
      Começar um novo ano com portas por fechar, é adiar a felicidade... e tanto se adia que um dia se perde...

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