domingo, 4 de setembro de 2011

Histórias XI

Hoje ela voltou lá... ao local onde se encontraram na manhã daquele dia. 

Estacionou, saiu do carro, vestiu o casaco, fechou o carro e seguiu em direcção a uma rocha. Sentou-se virada para o mar. Fechou o casaco e cruzou os braços sobre o peito para o manter fechado. 

Há um ano estavam ali os dois naquele sitio, sentados lado a lado. Conversaram sobre tudo e sobre nada, perderam-se nas suas histórias que se tinham cruzado havia já alguns anos. Ali estiveram durante horas, os dois, esquecendo-se de tudo o que existia para além deles os dois. O telefone dela toca e é como se fossem novamente chamados ao mundo... Ela atende... Ele levanta-se e aproxima-se um pouco mais do mar... Ela desliga... Ele olha para ela... Ela baixa o olhar e diz-lhe apenas: "tenho que ir, eles estão à minha espera". Ele voltou a virar-se para o mar, ela levantou-se e foi em direcção ao carro... nunca mais se voltaram a ver.

Quando há um ano marcaram aquele encontro ela nunca pensou que ao fim de tantos anos de ausência ainda o amasse... Tinham tido uma história complicada, que chegara ao fim, tendo cada um seguido o seu caminho. Ela casou, já era mãe, ele mantivera-se solteiro. Durante anos deixaram de se ver, deixaram de se falar, sabiam um do outro por amigos comuns, mas sabiam o básico. Ele não esteve no casamento dela, ele não a viu grávida, nem tão pouco conhecia o seu filho. Numa das visitas dele a casa, encontraram-se por acaso e marcaram aquele encontro para pôr a conversa em dia... nunca pensando no que iriam sentir...

Hoje, ela voltou lá, na esperança de o encontrar, na esperança de que alguma coisa dentro de si tivesse mudado. Nada mudou. Durante este ano ela pensou várias vezes em procura-lo, em fugir da sua vida, em correr atrás daquilo que sente, mas não pode ser, a sociedade e a sua consciência não o permitem...

Agora que se levanta para se aproximar do mar, antes de se ir embora, olha em frente e vê escrito numa rocha: "uma história para sempre..." e por baixo a data daquela manhã e o nome dele... Aproximou-se da rocha, escreveu: "...construída sob uma grande esperança...", a data e o seu nome...

Voltou costas e regressou ao carro...

...

Ano após ano ali voltou e de cada vez que voltava havia uma nova frase dele... naquela rocha escreveram a sua história, vivida assim... marcada numa rocha, embalada pela música do mar, aquecida pelo voo das gaivotas...



 Um dia... voltarão a encontra-se... Um dia...

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