Numa tarde sombria da sua vida, pegou no casaco, na mala, nas chaves do carro... na caixa das recordações e saiu, saiu sem saber onde ia parar... Conduziu sem rumo certo, até decidir ir ver o mar... Sentou-se, tirou os sapatos, caminhou até bem perto do mar, sentiu a água gelada tocar os seus pés e só isso a fez sentir-se viva...
Sentou-se com os pés na areia molhada, de vez em quando as ondas tocavam-lhe os pés, e recordação a recordação foi deitando uma a uma ao mar...
Anos mais tarde percebe que não o devia ter feito e sente saudades de rever tudo aquilo que deitou ao mar, o seu fiel depositário. Sabe que nunca mais as voltar a ter, nem aquelas, nem outras parecidas, porque o que foi não volta, as pessoas com quem partilhou aquelas recordações, as relações que a elas deram origem... nada daquilo voltará.
Ela ainda não percebeu que às vezes é mesmo assim, temos que deitar o passado fora, para deixar espaço para entrar o presente e o futuro. Aquilo que vivemos não fica pelas coisas materiais, mas sim pelas emoções... Aquela tarde não foi sinal de fraqueza, foi uma defesa... foi uma forma de se proteger, de deixar espaço para o que havia pela frente...
Talvez um dia volte aquele mar e lá perceba que no seu coação tudo se mantém guardado e isso, isso sim, nada, nem ninguém pode destruir...
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