sábado, 10 de novembro de 2012

Erros VI

"(...)já tive daqueles abraços. São tão bons. São os abraços de quem sabe que Ama e que é Amado, mas para cujo Amor o que se sabe não chega. Não é suficiente. Precisa-se do toque da mesma forma que se precisa de respirar. Por isso mesmo é que aquele abraço ainda não se desfez. É um abraço que estava com falta de ar. " (B.A.)

O corpo pede toque, mas mais do que sentir outro corpo, o corpo pede afecto... como se o afecto do toque de outro corpo fosse a capa protectora do nosso, como se fosse a superfície invisível sem a qual a nossa pele não conseguiria existir. 

O toque de uma mão na nossa, quando as lágrimas nos saltam dos olhos, o toque de uns lábios numa testa quando não há palavras a dizer, uma cabeça encosta num peito, quando o peso do mundo parece estar em nós... 

Um abraço apertado quando a vida do mundo cresce em nós...

Abraços são gestos de ternura, de afecto, de Amor... Abraços são momentos de entrega sincera e profunda de dádiva de nós mesmos. 
Abraços são no fundo o momento em que o mundo pára e o tempo conta ao contrário... Abraços quentes e abraços longos...  Abraços de corpos e abraços de almas...

Quando o aperto de um abraço nos tira o ar e ainda assim queremos manter-nos nos braços de alguém, é porque mais que o ar, o nosso corpo, a nossa alma e a nossa vida pediam o toque profundo e sincero de um corpo que nos quer bem... 

Onde está o erro aqui?
Está em quem diz que não se devem pedir abraços, que estes devem ser dados por iniciativa dos outros... é errado não reconhecer que, há dias, em que o abraço nos faz mais falta que o ar!

Desabafos XXV


"Eu não tenho amigos, tiro é a camisa por todos os que precisarem que eu o faça, porque são pessoas, tal como eu. Ser amigo é muito mais fácil do que isso. Se uma amizade não for fácil, então não é amizade." (B.A.)

Há dias que me pergunto isto... Será que tenho efectivamente amigos? Dou por mim a pensar se o facto de irmos fazendo outras escolhas na vida que não as de ficarmos muito próximos dos nossos "amigos" nos tornam piores pessoas? Nos tornam descartáveis e invisíveis... 
Se por um lado quem se afasta, por razões que não a da falta de carinho, devia tentar manter o contacto, por outro, também quem fica, se a amizade for verdadeira, devia tentar manter-se presente e próximo. 

"se uma amizade não for fácil, então não é amizade"... Nunca pensei dizer isto, mas começo a concordar... pode ser qualquer outra coisa, interesse, carência... não sei... mas a amizade é simples, é fácil...

Ainda que hoje tudo pareça confuso, dói sentir que ao longo de alguns anos, dei a camisa por muita gente que hoje nem se lembra que eu existo e apenas porque resolvi ser quem sou, e seguir o caminho que achei que era o melhor para mim... importa referir, que esse caminho nada tem a ver com estas amizades, apenas me deixa menos tempo para elas...  Mas isso é motivo para me apagarem de dentro deles?

Se um dia sentir que fiquei sem amigos, terei a certeza de uma coisa, não eram amigos... eram pessoas... apenas pessoas...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dias XXIV

Um dia vou saber o que fazer à minha vida...

Há dias, em que há uma sentimento de desorientação...  não se sabe que caminho seguir... o A, o B ou o C... 

Parece que tudo é desfocado, não se consegue definir o futuro, o caminho que fará chegar ao objectivo maior que é a felicidade... 

Quando se perde o rumo, o sentido e a certeza do que fazer, é difícil definir como lá chegar...

Quando a escolha não é conhecida, quando a cor da alma está por definir, a agitação da mente é maior que o bater do coração e com isso, os olhos turvam, as luzes desfocam e o caminho fica difícil de ser percorrido. 

Um dia saberei afinal o que é a minha vida... até lá vou tentando acalmar a mente, o coração e deixar os olhos ver como percorrer o caminho da existência... 

Cafés XXI

Lembras-te do primeiro café que tomámos juntos? Lembras-te quando foi? Onde foi?

Hoje voltei lá, mas sozinha. Sentei-me na mesma mesa, na mesma cadeira... Mas desta vez era a porta que via e não o teu sorriso.

"Era um café, por favor."

Voltar ali, lembrando-me de ti, e do nosso café foi estranhamente bom. Não dói, nem causa tristeza.

Quando o passado se torna presente por uns instantes e tem um sabor agradável é bom deixa-lo acontecer.

Levei mais de 30 minutos ali sentada a sorrir de frente para uma porta que deixava entrar um frio que não me fez querer ir embora.

Ainda que o teu café seja amargo, o meu é doce e será sempre... Fica uma boa lembrança, um aconchego que não quero esquecer... fica o sabor forte de um café de edição limitada.

Daqui a 10 anos vou lá voltar, sem ti... e talvez sem me recordar do que ali aconteceu e de quem eras... talvez daqui a 10 anos volte a saber quem és!

Mas hoje, fica um sabor doce... hoje voltei a tomar café contigo, ainda que tu não o tenhas tomado comigo!

Histórias XXXV

A casa estava vazia, o frio fazia-se sentir lá fora, mas também cá dentro. Há anos que ninguém morava naquela casa que fazia parte da família desde sempre.

Entrou, olhou em volta, estava tudo arrumado e limpo... é a sorte de ter quem lhe cuide da casa mesmo quando está ausente.

Era altura de se afastar da agitação constante da sua vida naquela cidade onde tantos andam e tão poucos caminham rumo a algo maior. Precisava de se ausentar física e mentalmente da sua rotina de todos os dias. Foram anos a viver dia a dia sem parar de pensar no trabalho e nos problemas, estando sempre a pensar novos desafios e projectos profissionais. Anos de um grande desgaste que agora sentiu estar a chegar a um ponto onde era preciso PARAR!

Foi até à cozinha, pôs água a aquecer, foi acender a lareira... fez um chá, pegou nele entre as suas mãos, sentou-se no sofá com as pernas cruzadas e uma manta sobre as pernas. Ficou de frente para a lareira assim sentada com a chávena de chá entre as mãos a tentar aquece-las... Mas a verdade é que o seu frio não conseguia passar com uma chávena de chá quente e uma lareira cheia de lenha a arder...

Naquela casa o mundo de recordações do passado era imenso, as historias daqueles que antes dela ali viveram, que passaram os seus dias, fazem-na sonhar, tentando imaginar como seria...

É assaltada pela lembrança de que não tinha avisado ninguém de que ali estava, de que tinha resolvido sair por uns dias. Pegou no telemóvel para tentar avisar alguém, mas ali não conseguia estabelecer chamadas... Entrou no carro, foi até à vila, até porque tinha que fazer algumas compras. Chegou à vila, estacionou junto da mercearia, pegou no telemóvel avisou apenas uma pessoa de que ali estava e iria ficar uns dias, não sabia quantos, mas não muitos. Fez as compras e ao sair de volta ao carro, entrava a sua paixão de infância... sorriram, alegraram-se por se terem reencontrado, falaram brevemente sobre a sua vida, o que lhes tinha acontecido em tantos anos de afastamento... Ela convidou-o para jantar nessa noite.

Voltou a casa, preparou-se e preparou o jantar... Jantaram... e no decorrer do jantar, de muitas confissões e conversas em voz baixa, ela soube que ele se tinha casado e tinha dois filhos, estava agora a sair de casa... O coração parou-lhe por alguns segundos... A sua paixão de infância já tinha encontrado o amor...
Talvez pelo efeito do vinho, ou dos sentimentos que emergiram ao fim de tantos anos, olharam-se nos olhos e tiveram uma das conversas mais sinceras e intensas que alguma vez algum deles tinha tido... falaram das feridas e das alegrias da sua vida, e do que estavam a sentir um pelo outro...
Ele foi embora, ela ficou...

Ficou claro dos dias seguintes que ela tinha medo de avançar, pela incerteza do que sentia, pela certeza de que não queria estar envolvida no fim de uma relação, porque a culpa a dominava...

Uma noite, depois de jantar, tiveram uma discussão acesa, ele foi embora, ela ficou... Passaram dois dias e nenhum disse nada...
A um dia de ir embora, e sem noticias, sabia que: "No dia seguinte, ou alguém cedia, ou cada um seguiria para seu lado..." (B.A.)

Ninguém cedeu... ela voltou à sua vida, ele recuperou o seu casamento... 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Encontros XIV


"Enquanto a vida tiver uma porta que me permita sair do lugar que não me faz feliz jamais deixarei de caminhar em direcção à felicidade"
Paulo Costa

Encontrar a porta de saída do estado em que nos deixámos chegar nem sempre é fácil. Porque há muitas e não sabemos qual escolher, porque não vemos nenhuma, porque até a vemos mas temos medo de sair de onde estamos e podermos ir para algo pior.

Ser feliz é sem dúvida uma decisão pessoal. Decisão que como tantas outras, dá trabalho, exige tempo, dedicação, esforço, vontade...

Mas afinal o que é a felicidade? Como se pode ter um encontro com esta "senhora" difícil de encontro e mais difícil ainda de manter na nossa vida?

Descobri estes dias que a felicidade depende da nossa capacidade de amar os momentos tristes... Passamos  uma vida inteira a tentar encontrar o centro, o meio termo, o ponto de equilíbrio... Ficamos muito contentes nos momentos muito felizes, mas rapidamente nos deixamos cair, porque queremos o meio, sempre o centro...

Pergunto-me se não são os momentos tristes que mais nos fazem reflectir? Se não são eles que nos levam a mudanças... Se na verdade não deveríamos amar os momentos tristes tanto ou mais do que amamos os felizes...

Há encontros com portas felizes e com portas tristes... qual vamos amar? Hoje, aprendi que devemos amar todas... até as que não escolhemos, só assim amamos a vida!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pessoas VII


"A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda por nossa causa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes, demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda não querem.
Os verdadeiros príncipes encantados não têm pressa na conquista, porque já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que, no futuro, nos vão levar à Tour d'Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz, e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução. Eles querem ter a certeza de que não se vão enganar.
O príncipe encantado nao é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz "amo-te",mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é o que passa de vez em quando férias com os amigos.
O príncipe que sabe o que quer não é o melhor namorado do mundo, é a melhor pessoa do mundo; não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos amigos e que ainda arranja um lugar num jantar para os amigos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que quando está cansado, fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter mota, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sair pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver programas alternativos. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O príncipe é um príncipe porque governa um reino, porque sabe partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.
Ora, com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que, às vezes, nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que, um dia, podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixá-lo ficar um dia atrás do outro.. Se for mesmo ele, fica."

A pessoa certa by Margarida Rebelo Pinto