Um dia as lágrimas vão ganhar!
Assumir mais uma responsabilidade, trabalhar num ideia nova, aceitar mais e mais trabalho... Durante semanas, que se têm convertido em meses é isso que tenho feito... trabalho, trabalho e mais trabalho. Esta semana devia ter parado, teoricamente estava de férias, mas não parei. Acho que trabalhei mais estes dias do que no conjunto das últimas semanas, mesmo longe do trabalho, não houve dia em que não estivesse uma a duas vezes ao telefone ou a finalizar documentos para enviar a quem está a trabalhar.
Já é tarde, já começou um novo dia. E estranhamente, as lágrimas ganharam. Ganharam ao cansaço, ao sono, às dores físicas... simplesmente venceram tudo o que dia a dia as foi empurrando para planos profundos.
Os últimos seis meses da minha vida são um conjunto de perdas e ganhos que não consegui digerir... As perdas têm sido proteladas dia após dia... A ideia de parar e pensar no que perdi, em como aconteceu, só a ideia me angustia.
É verdade que tenho andado triste e isso é facilmente detectável no que tenho escrito, é verdade que a motivação para continuar a lutar é cada vez menos... mas hoje, hoje está a doer muito. Hoje sinto-me sozinha, sinto-me traída... por mim... desiludida, magoada... Pior que tudo isto, é que sinto tanto a falta de quem resolveu partir sem explicar o porquê de me abandonar assim de uma hora para a outra.Só precisava de saber o porquê para me tranquilizar. E por mais que digam que às vezes não há razão, alguma tem que haver para num momento sermos lembrados a cada instante do dia e pouco depois passarmos a seres inexistentes.
Às vezes sinto como se algumas pessoas me tivessem enterrado sem terem dado tempo para tudo o que acontece entre a morte e o enterro. Quem sabe eu ainda tivesse a capacidade de recuperar?! Quem sabe eu não estivesse morta?! Sentir que me mataram dentro deles assim, é como sentir-me efectivamente a morrer aos poucos. Na verdade, nós vivemos, porque vivemos dentro dos outros, quando aos poucos eles nos começam a matar, quando aos poucos se começam a esquecer de quem somos, então o que fica?
Há uns anos, alguém me perguntava se eu tinha medo de ficar sozinha. Não, não tenho medo de ficar sozinha. Começo agora a sentir medo de ficar só. Tenho medo de morrer nos outros e simplesmente passar a existir.
Porque em mim, em mim acho que já morri...